Até 1985 o mercado de canetas sofisticadas no Brasil era dominado por uma Esferográfica muito fina para os padrões ergométricos de uma mão masculina que era o mercado consumidor de maior expressão, era quase que uma obrigação dos homens com cargos de gerencia, ou atividades de escritório ostentar no bolso da camisa sua Cross, geralmente elas eram douradas, prateadas ou cromadas e muito finas, eram muito cobiçadas e esse modelo havia desbancado as canetas tinteiros que foram sendo esquecidas nas gavetas por que a moda era ter uma Cross.

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O Senhor Mariano Pietro que teve por muitos anos o Posto Central de Canetas na Rua São Bento em SP contou-me certa vez que ele e o Romeu ficaram até quase meia noite na antevéspera do Natal embalando mais de 400 jogos de caneta e lapiseira Cross que eram encomendadas por grandes empresas para serem dadas aos funcionários nas comemorações de fim de ano e todas com os respectivos nomes de cada presenteado gravado, muitas dessas canetas tem o logo da empresa ofertante no clip o que dava um charme a mais para a caneta, era sinal na época que aquela pessoa era bem empregada.
A Cross dominou o mercado de canetas de 1971 até 1985 e tudo deve se a esferográfica chamada de Century que fora lançada em 1953 nos Estados Unidos, mas que tinha seu design baseada numa linha da Cross tinteiro da década de 1930, chamada de Signet e o Century veio de outra caneta tinteiro lançada em 1946 nos 100 anos da empresa apesar da empresa CROSS ter sua origem em 1846 ela se dedicava mais a joalheria e lapiseiras e as canetas estilográficas, que podem ser consideradas as percursoras das esferográficas ou das pontas porosas só que ela exigia ter um vidro de tinta do lado, porque ela tinha uma esponja ou fibra na ponta que absolvia a tinta e o usuário escrevia com ela assim.

No estojo acima é de 1881 a caneta tinha um conta gotas caso tivesse que ser transportada
Em setembro de 1953 as esferográficas Century chegam às lojas dos EUA e foi um sucesso, mas não chegava a assustar as grandes fabricantes de canetas Tinteiros como a Parker e a Sheaffer’s. O apelo à caneta Tinteiro era ainda muito forte e a caneta era considerada cara para os padrões da época chegando à custar até 5 dólares.
No Brasil ela foi chegando aos poucos, quase não se ouvia falar dela até que com a expansão das esferográficas e o apelo de hábitos norte americano a Cross despontou e chegou ao posto de caneta mais vendida e usada pelos grandes homens de negócio, era chique ostentar a caneta Cross, era engraçado ver pessoas destacando que era fácil de perceber uma Cross especial ou não, por que quando ela era grafada na ponta da tampa a palavra CROSS toda em maiúsculo sinal que o acabamento não era tão refinado e quando ela era grafada em cursiva que seria mais parecida com a palavra a seguir Cross, era sinal de um acabamento de melhor requinte nos seus detalhes.

Na Figura acima tem a famosa explicação que se o top da tampa tiver uma esfera de aço é a esferográfica e se o top for todo preto é a Lapiseira
Em 1985 começa outra esferográfica a aparecer nos paletós dos grandes empresários, uma nova geração de “yuppies”. Que ficou denominada assim na época, expressão para definir um Profissional urbano em ascensão e este trouxe uma nova tendência de caneta esferográfica a Montblanc 164 a caneta esferográfica europeia que veio para desbancar os norte-americanos, ela se tornou um objeto de cobiça e de status, era quase um símbolo de poder, pois ela mostrava o quanto você tinha na carteira para gastar, dizem que nos restaurantes bastava um cliente tirar a Montblanc do bolso para assinar um cheque, e em seguida o garçom nem pedia documentos e que escrevesse o telefone no verso do cheque.

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Com a chegada da Caneta Montblanc as vendas da Cross começam a cair e ela deixa de ser a queridinha dos homens de negócio, e o obvio surge, o seu tamanho passa a ser criticado, e no meio dessa briga de duas esferográficas para conquistar o mercado, as canetas tinteiros são relembradas e novos usuários que estão cansados de fazer esforço para escrever de esfero voltam a ter a agradável sensação de escolher uma pena de caneta que se adapte a sua escrita.
Com O dinheiro que se gastava para ter uma Cross ou uma Montblanc o consumidor podia comprar uma Parker ou Sheaffer’s e as canetas já não eram mais vistas como um objeto de trabalho, mas sim uma expressão da personalidade do usuário e o mercado das canetas tinteiro voltou a crescer no Brasil.
Espero ter ajudado você nesse Universo das canetas e agradecer as esferográficas que permitiram a volta das canetas tinteiro.