
No final de 1988 eu conheci o Sr Euclides e ele usava uma caneta tinteiro, algo incomum para aqueles tempos com o passar dos meses ele me ensinou a manusear as canetas tinteiros, e era muito difícil achar os os tinteiros para abastecer as canetas, foi ele que me disse para ir numa papelaria do Centro da cidade, fui na loja indicada por ele e nesse local que não existe mais, fui atendido por um bondoso senhor polonês. Talvez vendo minha curiosidade e ignorância no assunto me vendeu uns vidros antigos de tinta e disse mesmo assim: “Um dia eles vão acabar! No tempo da Guerra eu mesmo fazia minhas tintas para caneta, fornecia para o campo todo! Eu posso te ensinar!” Não sei o motivo mas ele parou o seu serviço, pegou um folha de papel sulfite e foi escrevendo, me orientando e ensinando como fazer a fórmula, falava de componentes que nem imaginava o que era mas dizia e escrevia qual a finalidade de cada um para a fórmula da tinta, eu como tinha minha profissão não me preocupei e não percebi naquela hora o legado que ele me ofertou por que hoje eu sei que a tinta é a alma de uma caneta.
Guardei a folha com a fórmula e a memorizei bem devagar e ao longo da minha vida toda a vez que comprava um vidro de Tinta pensava orgulhoso, eu sei fazer também! Agora a vida de presenteou com um espaço onde eu fabrico minhas tintas, seguindo a receita recebida em 1989 e sou muito grato a aquele senhor que me ensinou e ao Senhor Euclides que me despertou para colecionar instrumentos de escrita.

ACERVO PESSOAL
Acima vidro comprado em 1989 e conservado até hoje como base para a elaboração das tintas Godê
O Brasil sempre foi um pouco carente no mercado de Tintas para caneta, no anos 40 a Tinta Sardinha era a marca mais conhecida depois vieram a Goyana, Tin Goy, Pilot, Stephens, Albion, mas as mais cobiçadas era a Tinta Parker ink e a Sheaffer’s Skip, todo colecionador de canetas aos poucos se torna também um colecionador de tinta para a caneta, por que os tinteiros e as suas cores são um atrativo a mais para o apreciador, estive contando os vidros de tinta que ao longo da minha vida comprei e alguns fiz questão de não usar, estão ali somente para serem apreciados.
A Tinta de caneta se popularizou na década de 1930 e 1940, antes disso era uma mistura de óleos, corantes de frutas, sangue tinta de lula, carvão e até mesmo ameixa.Mas com esse componentes tão exóticos criavam uma dificuldade para o mercado da caneta por que eles eram pensados para um tinteiro de vidro que ficava fixo numa mesa perto do local de trabalho onde as pessoas mergulhavam uma pena de metal que tinha um cabo de madeira que funcionava como o corpo da caneta tinteiro, ou seja, a tinta não ficava em contato direto com a caneta como acontece com as canetas tinteiro que vinham com um conceito diferente, por que prometiam a liberdade de levar a tinta para qualquer lugar junto com sua caneta, e essa tinta precisava ser composta com produtos industrializados e quimicamente estáveis.
A Tinta Parker e a Tinta Sheaffer’s chegam aqui no Brasil no inicio da década de 1920, mas era caro quase impossível ter uma caneta tinteiro exclusiva e assim os tinteiros fixos ainda dominavam os escritórios e as escolas.
Em 1931 a Parker lançava a Parker Quink que tinha como ideia gerar uma tinta de rápida secagem e adequada para a vida agitada que se iniciava naqueles tempos e a partir dai quase todas as boas marcas optaram em ter seu segmento de fabricação de tintas. O mercado de tinta expandiu do mesmo jeito que o mercado da caneta que passa ser um consumo individual e não mais um artigo para o trabalho em escritório.

ACERVO PESSOAL : Caixa de tinta Parker Quink década de 50 observe a referencia a “Blue Diamond” a marca de qualidade da marca no nome da tinta.
A DESEJADA:
O vidro e a tinta Parker da década de 1970 e 1980 é apontada por muitos como a melhor tinta produzida no Brasil e até hoje desperta interesses de colecionadores especialmente pelo seu cheiro característico que muitos associam ao Fenol

Acervo Pessoal – Tinta Parker final da década de 1980
Muitos colecionadores tem receio de usar tintas “velhas” em canetas tinteiro, eu particularmente não me preocupo, só faço uma advertência, se o conteúdo de um vidro de tinta apresentar manchas aparentes na superfície, nesse caso a tinta está com fungos e bactérias e pode sim estragar os componentes de borracha da caneta, mas eu faço uma indagação para o usuário de tinta antiga; “Para que usar um vinho nobre sem uma boa justificativa ?” Prefiro admirar um vidro de tinta fechada como um marco da Historia da industria das canetas, hoje no Brasil temos uma boa oferta de tintas estrangeiras como a Pelikan, Mont blanc, Pilot, Watermans, Diamine, Parker, Sheaffer e etc. A Faixa de preço é extensa desde poucas dezenas de reais a algumas centenas de reais, e temos também as edições especiais que são colecionaveis e os vidros e acabamentos, alguns desses tinteiros são verdadeiras obras de arte.

Acervo Pessoal – Tinta Sheaffer Skrip final da década de 1980 e início de 1990
Gosto de ter vidros de tinta das marcas que eu tenho preferência por que existe uma ligação entre um modelo que saiu em determinado ano e a tinta daquela época, por exemplo a Parker 51 inicialmente estava associada a tinta Supercrome da Parker que devido a sua acidez a empresa destacava que ela só deveria ser usada neste modelo específico.
Hoje no Brasil temos excelentes tintas e bons fabricantes e sempre é bom fazer comparações entre elas para poder usufluir o melhor de cada uma. Destaco as tintas da Ravil Canetas de São Paulo, onde o Falecido Sebastião se dedicou a desenvolver uma tinta de qualidade por um preço justo e apresenta muitas cores em seu catálogo. Temos também a Tinta Virtus que se apresenta como uma opção para aquele colecionador que deseja cores vibrantes e com um belo visual e a nossa marca a Tinta Godê que mantem a fórmula exclusiva que aprendi em 1989 e entendo que junto com ela, me foi dado esse legado de amar e respeitar o mundo das canetas tinteiros e obviamente as suas tintas, lembre-se no universo dos fabricantes de tintas para caneta não existe concorrência, todas as marcas de tinta tem o mesmo objetivo que é marcar as palavras e escrever o futuro, para tinta e para vinho cada marca e cada vidro, cada rótulo e ocasião são únicos! Nunca concorrentes todos participantes do grande banquete da vida.


Acima vidro de Tinta da Ravil Canetas desenvolvido para suprir o mercado nacional devido a falta de importação de Tintas pelos fornecedores da época .

Foto da caixa de tinta que acompanhava a Parker Centenial em 1988 a caneta comemorativa dos 100 anos de vida da Parker


Lateral e a tampa da Caixa da Centenial o que mostra a importancia do colecionador de canetas em manter caixas e vidros de tinta como parte de sua coleção, isso ajuda a analisar a evolução da marca e seus acessórios
Esse assunto não se encerra aqui como tudo no mundo do colecionador de canetas, deve ter outros fabricantes de tinta em outros estados do Brasil e gostaria de saber sobre eles, o convite está feito se desejam se apresentar,entrem em contato conosco e teremos o maior prazer em divulgar seus produtos e aguardem os próximos temas ligados as Marcas de tinta e sua devida significação para as coleções de Canetas tinteiros.
Até Breve